Caros ouvintes,
Sejam bem-vindos às Manobras Comunicadeiras! O programa de rádio que acompanhou o IV Encontro Ser EducAção. No programa de hoje vamos apresentar o relatório da oficina de rádio que tomou lugar na Vila de Soajo entre os dias 5 e 9 de Setembro de 2018.
Nascidas de uma necessidade concreta apontada pelas dinamizadoras do Ser EducAção, as Manobras Comunicadeiras integraram a estratégia de comunicação do encontro anual em 2018, e permitiram criar uma equipa de reportagem composta por crianças e jovens para a cobertura do evento.
Juntando o útil ao agradável, o lúdico ao pedagógico e o divertido ao produtivo, a Rádio Manobras (rádio comunitária do Porto), organizou três tardes e uma manhã de oficina prévia ao encontro, com a intenção de capacitar um grupo de “mini-repórteres” que viria a ficar responsável por “gravar, entrevistar, fotografar, filmar, escrever, desenhar a Vila de Soajo durante o IV Encontro Ser EducAção”.
O objectivo era instigar as crianças e jovens participantes a produzirem em colectivo conteúdos que retratassem a filosofia, as práticas, o ambiente e as pessoas que compõem o Ser EducAção nas suas duas dimensões principais:
- enquanto “movimento comunitário pela ação e co-criação transformadora da Educação”;
- e enquanto encontro em torno de “uma outra escola possível”, que todos os anos, desde 2015, tem vindo a reunir na Vila de Soajo cerca de duzentos professores, educadoras, decisores políticos, investigadoras, pais, mães, crianças, e outras pessoas interessadas em temas alternativos da educação.
Abordagem pedagógica: Fazer. Em conjunto.
A educação para a informação e os media [tornou-se] uma vertente incontornável da formação de qualquer cidadão e um caminho que, desde a família à escola e a outras instâncias formativas, não pode deixar de ser promovido e cuidado, com vista a promover a literacia mediática, uma vida com mais dignidade e qualidade e uma participação social e política esclarecida.
in Referencial de Educação para os Media (Ministério da Educação e Ciência, 2014)
Com a intenção de ajudar a treinar o uso consciente, crítico e independente da comunicação enquanto instrumento chave da nossa construção social, a oficina pretendia cumprir um ciclo que partia da consciência individual e cívica para a prática colectiva, e desta para a teoria e o conhecimento.
Auscultando as vontades e vocações de cada um dos participantes desde o primeiro momento, começámos com um auto-retrato do colectivo, onde cada um devia desenhar-se como peça interligada, parte de uma mesa de mistura.
Passámos então para a montagem do estúdio provisório numa sala da Escola Primária, onde demonstrámos a função e o aparato dos dispositivos que fazem parte da rádio. Depois experimentámo-los na prática, com uma ronda de breves entrevistas dois-a-dois, para que os participantes se dessem a conhecer ao grupo, e acima de tudo, para se ouvirem mediados por aparelhos sonoros, compreenderem a sensibilidade dos microfones e os cuidados a ter na captação.
A “paredes meias” com o recreio da Escola Primária, a histórica eira comunitária de Soajo (com os seus espigueiros monumentais), serviu de cenário e metáfora para a “dinâmica da rede” que se seguiu. A ideia era transmitir ao colectivo editorial em germinação a importância da interdependência entre as diferentes funções que permitem cumprir o trabalho de reportagem. Como se relacionam o redactor e o revisor? Para que serve um editor? O repórter precisa do fotógrafo? O ilustrador pode ajudar o repórter? Quem é que trata da difusão da informação?
No dia seguinte, o grupo começou por definir um plano de trabalho para os próximos dias, que passaria por preparar um jingle radiofónico, documentar “o que se está a passar”, anunciar “o que se vai passar”, e entrevistar voluntários, organizadoras, soajeiros e dinamizadores de actividades no encontro.
Gravadores e câmaras em riste: manobras em acção!
Munidos de credenciais de imprensa, blocos de notas, esferográficas, gravadores, auscultadores e máquinas fotográficas, os mini-repórteres saíram então para o terreno, ainda antes do encontro começar. O mote era entrevistar, comunicar, agir e brincar em prol de uma comunidade mais “info-activada”.
Após a oficina prévia – e já com um grupo central dotado de espírito, de técnica e de entusiasmo para manobrar a acção comunicadeira – ao longo dos dias do encontro o estúdio aberto em permanência (numa tenda de índios nas traseiras da Casa do Povo), serviu de ponto de encontro para o colectivo editorial convergir e divagar na organização do seu trabalho de reportagem.
À equipa inicial de 5 repórteres, foram-se juntando outras crianças e jovens que entretanto chegavam ao Ser EducAção. Ao longo do fim de semana, 18 “mini-repórteres” com idades entre os 7 e os 13 anos contribuíram para a cobertura do evento. No processo de acolhimento de novos participantes (criação de equipas, divisão de tarefas e responsabilidades), foi fomentada a capacidade de auto-gestão do colectivo, enquanto que o papel dos dinamizadores da oficina assentou principalmente na orientação técnica para a utilização dos equipamentos (gravadores e máquinas fotográficas), no apoio à preparação colectiva das entrevistas de fundo (às organizadoras e ao Professor José Pacheco), e na edição dos materiais para posterior publicação.
Manobras Comunicadeiras: Resultados
A equipa das Manobras Comunicadeiras realizou dezenas de entrevistas áudio a participantes, voluntários, organizadoras, soajeiros, dinamizadores e convidados do IV Encontro Ser EducAção. O registo sonoro foi complementado com registos fotográficos dos entrevistados, das actividades, do ambiente geral e do próprio processo “comunicadeiro”.
As peças radiofónicas foram transmitidas na Rádio Manobras e estão disponíveis online em https://soundcloud.com/sereducacao
· Entrevista às Organizadoras: Rádio Manobras 08SET às 13:30 + soundcloud
· Entrevistas a Soajeiros: Rádio Manobras 08SET às 14:30 + soundcloud
· Entrevistas a Voluntários: Rádio Manobras 08SET às 15:30 + soundcloud
· VoxPop Ser EducAção / Entrevistas a Participantes: soundcloud
· Entrevista com José Pacheco: soundcloud
Estão ainda no forno diversos registos para além destes, que serão calmamente publicados ao longo dos próximos meses, incluindo uma entrevista ao músico Rão Kyao, gravações de concertos e de histórias para crianças, e o trabalho de campo com a Floresta Escola.
Para uma próxima oficina, fica também a vontade de aprofundar o trabalho de edição (aprender a utilizar software de edição áudio; organizar/catalogar/etiquetar/selecionar conteúdos; redação de sinopses), disponibilizar peças no local (criar um jornal de parede ou um estendal de notícias; sonorizar o espaço do encontro, com a transmissão in loco das peças produzidas); e de alargar a disseminação de conteúdos (com peças difundidas no site, redes sociais, rádio manobras, rádios e jornais locais).
// Sobre os dinamizadores
Rádio Manobras | Rádio comunitária do Porto | http://radiomanobras.pt/
Anselmo Canha | colaborador da Rádio Manobras e nela co-autor de vários programas; músico experimental e pop-rock (Os Senhores, Repórter Estrábico, Diário da República); co-organizador de eventos e de oficinas artísticas (Manobras no Porto, Future Places, Rádio Manobras); produtor e documentador sonoro; investigador sobre as relações entre a criatividade e o bem-comum; designer em regime profissional, experimental e informal; professor de design na Escola Superior Artística do Porto.
Sara Moreira | estudante de doutoramento na Universidade Aberta da Catalunha e investigadora sobre comunicação do bem-comum; colaboradora em diversos media comunitários (Jornal Universitário do Porto, Global Voices, Rádio Manobras, Jornal Mapa) e projectos de jornalismo de investigação (Generation E, Juventude em Jogo); fundadora da associação Moving Cause (2009); formadora em info-activismo em Portugal, Timor-Leste, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Alemanha; aprendiz de permacultura e co-dinamizadora das AMAP. Colabora assiduamente com a Rádio Manobras desde 2015 no programa O SOM É A ENXADA, e pontualmente com outros pretextos.